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Homocracia totalitária
Eguinaldo Hélio de Souza
Um conhecido site de compartilhamento na internet possui cerca de 34
milhões de arquivos. São textos, vídeos, áudios, imagens, programas de
todas as naturezas. Dificilmente um tema não será encontrado ao ser
digitado em seu sistema de buscas. Entretanto, se você inserir a
palavra "homossexualismo" nada encontrará dentro de seus inúmeros
arquivos. Se, pelo contrário, inserir "homofobia", uma enxurrada de
informações estará a seus dispor.
A questão é porque uma palavra há pouco tão comum em nossa cultura
desapareceu tão completamente e um vocábulo recém criado tomou o seu
lugar? Quem é responsável por essa mudança? Que intenções existem por
trás desse procedimento? Quais as implicações de tal fato? Essa
mudança vocabular tem conseqüências maiores?
Na verdade, tais fatos são sintomáticos. Estão indicando uma mudança
cultural significativa. Não necessariamente uma mudança natural do
pensamento da sociedade e sim uma alteração imposta. A questão
semântica envolvida está fundamentada em decisões e atitudes
ditatoriais que não abre espaço para o debate e não permite
discordâncias.
Os leitores do livro "1984" de George Orwell com certeza estarão bem
familiarizados como essa manipulação da linguagem. Eles sabem que não
se trata de mudar vocábulos, mas de manipular pensamentos e distorcer
conceitos. A ditadura fictícia criada por Orwell era baseada em fatos
históricos. Qualquer semelhança não era mera coincidência.
Ao dar às palavras um sentido diverso do que elas tinham, a mente era
forçada a se contradizer. Era a novilíngua servindo de instrumento de
dominação. A supressão de certas palavras tinha a finalidade de
suprimir idéias ligadas à elas. A criação de novas palavras inseria as
idéias que os dominadores queriam inculcar na mente de ouvintes e
leitores, mesmo sem seu consentimento.
No romance de orwelliano, o Miniamor, ou Ministério do Amor, torturava
os discordantes. O Minipaz, ou Ministério da Paz, criava e fomentava a
guerra. E o Minifartura, ou Ministério da Fartura, controlava a
distribuição de alimentos criando artificialmente a carência e a fome.
É fácil entender o quanto essa distorção realidade-palavra era
importante para o domínio e controle. O trecho abaixo mostra o
protagonista ouvindo a explicação a respeito da manipulação das
palavras. Foi reduzido por questão de espaço, mas é suficiente para
nos fazer entender a seriedade do assunto:
- Estamos dando à língua a sua forma final - a forma que terá quando
ninguém mais falar outra coisa. Quando tivermos terminado, gente como
tu terá que aprendê-la de novo. Tenho a impressão de que imaginas que
o nosso trabalho consiste principalmente em inventar novas palavras.
Nada disso! Estamos é destruindo palavras - às dezenas, às centenas,
todos os dias. Estamos reduzindo a língua à expressão mais simples.
(...)
- É lindo, destruir palavras. Naturalmente, o maior desperdício é nos
verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que podem
perfeitamente ser eliminados. Não apenas os sinônimos; os antônimos
também. Afinal de contas, que justificação existe para a existência de
uma palavra que é apenas o contrário de outra? (...)
- Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do
pensamento? No fim, tornaremos a crimidéia [idéia contrária aos
desejos da ditatura] literalmente impossível, porque não haverá
palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão
expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido,
e cada significado subsidiário eliminado, esquecido. (...) Cada ano,
menos e menos palavras, e a gama da consciência sempre um pouco menor.
Naturalmente, mesmo em nosso tempo, não há motivo nem desculpa para
cometer uma crimidéia. É apenas uma questão de disciplina, controle da
realidade. Mas no futuro não será preciso nem isso. A Revolução se
completará quando a língua for perfeita. (...) Mudarão as palavras de
ordem. Como será possível dizer "liberdade é escravidão" se for
abolido o conceito de liberdade? Todo o mecanismo do pensamento será
diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como
hoje o entendemos. Ortodoxia quer dizer não pensar... não precisar
pensar. Ortodoxia é inconsciência.
É fácil perceber o perigo por trás das mudanças. Mudam-se as palavras
para que as consciências sejam mudadas. Para um exemplo prático e
histórico desse tipo de manipulação ideológica basta lembrar que
"limpeza étnica" era o termo técnico usado pelo nazismo ao queimar,
asfixiar e matar por tortura milhões de judeus. Por trás do eufemismo
se escondiam ações diabólicas. As ditaduras não sobrevivem sem
manipular o sentido das palavras.
Homossexualismo X Homofobia
A palavra homossexualismo foi exorcizada por uma ditadura gay
incipiente que alegou ser o sufixo "ismo" um indicador de doenças.
Usá-la significaria atribuir uma enfermidade ao praticante.
Entretanto, esse é um preconceito contra o sufixo. Ele tem inúmeros
significados que nada têm haver com doença. Podemos citar:
* Doutrinas ou sistemas: realismo, positivismo, fascismo, budismo;
* Modo de proceder ou pensar: heroísmo, servilismo;
* Forma peculiar da língua: galicismo, neologismo;
* Na terminologia científica: daltonismo, reumatismo.
De acordo com o dicionário, ismo, é um sufixo de origem grega e indica
origem, crença, escola, sistema, conformação. Ou seja, palavras com
essa terminação indicam que uma ideologia é seguida, que existe algo
consolidado como regra ou, pelo menos, que se acredita ser uma regra.
Assim temos o positivismo, catolicismo, presidencialismo, helenismo,
jornalismo, etc. Meu jornalismo opinativo não é uma doença com toda
certeza.
Mas que dizer da palavra homofobia?
Homofobia sim traduz a idéia de doença. Não é simplesmente um medo,
mas um medo irracional e mórbido. Quando aplicado a qualquer pessoa
que discorde da prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, torna esse
um doente. E mais. Além desse sentido de doença, foi acrescentado a
ele o sentido de ódio e de um modo tão vil que para ser homofóbico,
basta discordar. Então o indivíduo automaticamente se torna um doente
e criminoso que odeia os praticantes da homossexualidade. Em um
simples jogo de palavras, tudo vira de ponta cabeça.
Homossexualidade X Homoafetividade
Uma das maiores demonstrações de manipulação mental e social através
da mudança de vocabulário está presente na substituição da palavra
homossexualidade por homoafetividade. Foi feito como se ambas fossem
sinônimos, quando na verdade são conceitos bem diferentes.
Homossexualidade (grego homos = igual + latim sexus= sexo) refere-se
ao atributo, característica ou qualidade de um ser — humano ou não —
que sente atração física, emocional e estética por outro ser do mesmo
sexo. Como uma orientação sexual, a homossexualidade se refere a "um
padrão duradouro de experiências sexuais, afetivas e românticas
principalmente entre pessoas do mesmo sexo";
Homoafetividade por seu turno se refere pura e simplesmente à
manifestação de afeto, ou seja, carinho e amor, por uma pessoa do
mesmo sexo.
Ora, a homoafetividade ocorre entre pai e filho, entre mãe e filha,
entre irmãos, parentes ou mesmo amigos do mesmo sexo sem que esteja
presente qualquer prática sexual. Seria absurdo pensar tal coisa.
Afeto eu tive por meu pai e o tenho naturalmente por meu filho.
Todavia, praticar sexo com eles seria horrendamente impensável.
Transformar em sinônimos essas duas palavras é um crime contra a
consciência e contra a verdade.
Afeto é bonito e terno, expressa o sentimento de amor que Deus deu ao
homem. Igualá-lo a uma prática condenada ao longo da história por meio
de uma troca de palavras é um abuso que já devia há muito ter sido
denunciado.
Esse jogo de palavras causa muita confusão. Há casos de jovens que se
consideram homossexuais, sem nunca ter tido qualquer relação sexual
com pessoa do mesmo sexo. Consideram que o fato de terem grande
amizade e apreço por alguém do mesmo sexo já os classifica desse modo.
A verdade é que nada é ao acaso. Tudo é friamente calculado. A
intenção é confundir.
Homocracia X Democracia
Somos uma democracia, ao menos oficialmente. Em uma definição
simplista, governo do povo, pelo povo, para o povo. Como o consenso é
impossível, vence a maioria. A vitória de uma minoria agride o sentido
da palavra "democrático".
A maioria do povo brasileiro aprovaria a PLC 122/06? Aprovaria o
"kit-gay" nas escolas? Se fosse lhe dado chance, aprovaria a decisão
recente do STF de união estável para os homossexuais? Aceitariam a
mordaça que da lei de homofobia que criminaliza qualquer pessoa que
discorde deles por questões religiosas e de consciência? É óbvio que
não. Bastaria um plebiscito para oficializar o que já dizem as
enquetes. Se fosse dada uma chance verdadeira do povo se manifestar,
com certeza as verbas estatais milionárias e absurdas que as paradas
gays e outras atividades do gênero seriam cortadas imediatamente.
Contudo, inúmeras decisões sérias têm sido tomadas em nome de uma
minoria contra uma maioria. Uma aristocracia homossexual tem assumido
decisões, utilizado verbas públicas, criminalizando pessoas descentes
para justificar suas escolhas abomináveis.
Sob a desculpa de um governo laico qualquer padrão moral é taxado de
fanatismo religioso. Sim, a população brasileira é cristã, de alguma
forma, em sua maioria. E porventura seu cristianismo invalida sua
opinião? Pagar imposto pode. Exprimir sua opinião, não pode. Desde
quando o laicismo estatal desconsidera um povo por suas crenças? Como
já disse alguém, leis ruins são o pior tipo de tirania. Não é esse o
nosso caso? A verdade é que os ativistas gays não querem apenas
direitos. Eles querem poder.
Erótico versus espiritual
Termino com um texto de A.W. Tozer, um profeta, que como todos os
profetas soube captar a essência de seu tempo e expô-lo à luz de Deus.
O que ele escreveu há cinqüenta anos mostra sua percepção do
verdadeiro conflito que enfrentamos:
O período em que vivemos bem pode passar à história como a Era
Erótica. O amor sexual foi elevado à posição de culto. Eros tem mais
cultuadores entre os homens civilizados de hoje do que qualquer outro
deus. Para milhões o erótico suplantou completamente o espiritual.
(...)
Pois bem, se esse deus nos deixasse a nós, cristãos, em paz, eu por
mim deixaria em paz o seu culto. Toda a sua esponjosa e fétida sujeira
afundará um dia sob o seu próprio peso e será excelente combustível
para as chamas do inferno, justa recompensa recebida, e que nos enche
de compaixão por aqueles que são arrastados em sua ruinosa voragem.
Lágrimas e silêncio talvez fossem melhores do que palavras, se as
coisas fossem ligeiramente diversas do que são. Mas o culto de Eros
está afetando gravemente a igreja. A religião pura de Cristo que flui
como rio cristalino do coração de Deus está sendo poluída pelas águas
impuras que escorrem de trás dos altares da abominação que aparecem
sobre todo monte alto e sob toda árvore verde. A.W. Tozer, Erótico
versus Espiritual.
Resista verbalmente
Se vamos resistir, resistiremos a partir da linguagem. Os cristãos
jamais devem utilizar a palavra "homoafetivo" ou "homoafetividade".
Chame pelo nome verdadeiro – homoerótico ou homossexual. Quando o
acusarem ou acusarem alguém de homofóbico, pergunte o que significa
isso. Medo de homossexuais? Ódio a homossexuais? Absolutamente não
temos. Apenas reprovamos o que a Bíblia reprova.
A mídia já está popularizando a expressão "casal heterossexual". Essa
expressão faz tanto sentido quanto água molhada e fogo quente.
Qualquer criança sabe e qualquer dicionário confirma que um casal é
macho e fêmea. Desde sempre, em qualquer cultura, em qualquer escrito,
religiosos ou não, um casal foi macho e fêmea. Agora porque alguns
querem realizar suas práticas sexuais sem serem criticados, subvertem
milênios da história humana, não poupando a própria linguagem. Não
importa o que duas pessoas do mesmo sexo façam, não importa o que
digam, não importa nem mesmo o que outros dirão sobre isso. Eles
jamais serão um casal.
Publicado originalmente na Revista Apologética Cristã nº 11.
--
Beijos da Rose
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